Do Porco ao Enchido – O Antigo Ritual de Preparar a Tripa

No tempo dos nossos avós, nada do porco se desperdiçava. A matança era uma festa de comunidade, e todos tinham a sua tarefa.
As mulheres, de mãos sábias e paciência infinita, tratavam das tripas — não apenas como ingrediente, mas como parte essencial do ritual que transformava o porco em alimento para todo o ano.
Era um trabalho minucioso: lavar, raspar, escaldar e virar as tripas até ficarem limpas e prontas a receber os temperos e carnes que fariam os enchidos.
Este processo era quase um ofício, passado de geração em geração, carregado de segredos e cuidado.
As tripas, usadas como invólucro natural para chouriços, farinheiras e morcelas, exigiam um trabalho rigoroso.
Primeiro eram retiradas cuidadosamente durante a matança, depois lavadas várias vezes em água corrente.
Vinham os banhos de água com sal e limão para desinfetar e retirar odores, e só então eram raspadas e viradas ao contrário com a ajuda de uma cana ou uma agulha própria.
No final, ficavam translúcidas, elásticas e resistentes — verdadeiras “caixas naturais” para guardar o sabor do Alentejo.
Hoje, com a modernidade, já se encontram tripas prontas, mas quem viveu o tempo antigo sabe o valor e o trabalho que estava por trás de cada chouriço pendurado na lareira.