Memórias do Amolador Ambulante
Lembras-te do som agudo da gaita que ecoava pelas ruas, avisando que o amolador vinha aí?
Aquele som que fazia as donas de casa correrem à janela com a faca na mão e um sorriso de saudade?
📰 “O Som do Fio: O Amolador Ambulante”
Nas vielas empedradas de Portugal, antes do ruído dos motores e da pressa dos dias, havia um som que se ouvia de longe — um apito fino, quase melódico.
Era o amolador ambulante, mestre do metal e da paciência, que surgia empurrando a sua bicicleta adaptada com uma roda de amolar.
Trazia no olhar o brilho das lâminas e no coração o ritmo das aldeias.
Com a força do pé e da pedra, devolvia vida a facas, tesouras e até tesourinhos de costura que já não cortavam nada.
O som do ferro contra a pedra era como música — uma sinfonia simples, que unia vizinhos à porta e memórias no tempo.
Hoje, o amolador é quase uma lenda viva.
Mas o seu apito ainda ecoa em quem se lembra do cheiro do metal molhado e do calor das tardes de verão com cheiro a ferro e sabão.
📜 HISTÓRIA ANTIGA — “O Apito na Neblina”
Dizem que nas manhãs frias de Viseu, quando o nevoeiro tapava as ruas, o velho Joaquim Amolador soprava a sua gaita de beiços e o som atravessava o silêncio como uma ave de prata.
As crianças corriam atrás dele, encantadas com a roda que faiscava.
Uma vez, uma rapariguinha perguntou-lhe:
“Senhor Joaquim, por que é que as facas ficam tristes?”
Ele sorriu e respondeu:
“Porque esquecem o que é cortar… eu só lhes lembro quem são.”
E assim, com o sopro de um apito e o lume do ferro, fazia renascer o fio — e o tempo.
