Sarapatel ou Sopa de miúdos

O Sarapatel não é originário da África e sim de Portugal mais precisamente do Alto Alentejo, região que fica no extremo leste, fronteiriça com a Espanha.Da Europa o prato migrou, com os colonizadores portugueses para a Ásia (Damão, Diu e Goa, na Índia) e para o Brasil.

Foto de Tiago Miguel Silva

Tanto na Índia como no Brasil, o Sarapatel tradicional, principalmente o do Nordeste (Pernambuco e Ceará) a base do preparo são os miúdos de porco, sendo que nas ex-colônias portuguesa na Ásia é mais condimentado, com o emprego de cravinho, açafrão, canela e tamarindo. Em algumas regiões do Brasil prepara-se a iguaria com vísceras bovinas.

Em Portugal, utiliza-se os míudos do cabrito ou do carneiro novo (borrego), mais abundantes na região.Existem muitas variantes de sarapatel em Portugal, não sendo, por isso, confecionado da mesma forma de Norte a Sul do país.

No Minho é confecionado com as miudezas do cabrito, sendo um prato fundamental na Romaria de São João d’Arga, uma das mais típicas festas minhotas.

Já no Alentejo o sarapatel leva, para além das miudezas, carne de borrego e cabrito e é servido sobre fatias de pão alentejano. Pensa-se que a introdução da carne no Sarapatel tenha sido feita pelos cristãos novos, cuja anterior religião judaica os impedia de comer as partes menos nobres do animal, como os miúdos e o sangue.

Este prato foi levado pelos portugueses aos quatro cantos do mundo, durante a época dos Descobrimentos, tendo sido acrescentadas variantes nessas paragens. Em Goa, o Sarapatel é feito com miudezas de porco e fortemente condimentado com especiarias como açafrão, canela, cravinho, tamarindo, malagueta e gengibre, que lhe conferem um sabor muito característico.O Sarapatel é por isso um símbolo da fusão entre a cultura portuguesa e a indiana, fazendo também parte da cozinha tradicional brasileira.

O vinagre tem neste prato um papel muito importante. Não só confere a acidez que lhe é característica (que na receita goesa pode ser dada pela água de tamarindo), como nas versões que levam sangue, impede que este coagule.

Os ingredientes (para 6 pessoas):

  • 3 kg de miúdos de cabrito recém abatido (é importante que contenha pelo menos um pedaço de cada víscera e também parte da língua e da garganta coalhado
  • ½ kg de sangue de cabrito recém abatido,
  • Caldo de 2 limões grandes
  • 100 ml de vinagre de vinho
  • 4 dentes de alho inteiros
  • 4 dentes de alho muito bem socados
  • 1 cebola grande bem picada
  • 1 tomate grande, sem sementes, bem picado
  • 1 pimentão médio, sem talo e sem sementes, bem picado
  • 1 noz moscada ralada
  • 1/2 molho de coentro bem picado
  • 1/2 molho de salsa bem picada
  • 8 folhas de louro
  • 1 colher de chá de cominho
  • 5 colheres de sopa de azeite de olivaSal, o necessário

Separe os miúdos, lave bem com água a metade do vinagre e a metade do caldo de limão.Coloque para cozinhar; com água, pouco sal, uma pitada de cominho, uma pitada de noz moscada, metade das folhas de louro, os dentes de alho inteiros e o restante do vinagre e do caldo de limão.Deixe cozinhar até ficar macio, porém consistente.Retire do lume, deixe arrefecer e pique tudo em cubinhos de cerca de 1,5 cm, regulares na medida do possível.Coloque 4 colheres de azeite na caçarola e deixe aquecer (lume médio).Frite o alho socado e a cebola picada até amarelar (sem queimar).Adicione os miúdos picados, o restante do cominho e da noz moscada e deixe refogar.Acrescente o restante dos temperos, reservando 1 ½ colher de sopa do coentro picado.Mexa bem, acrescente 150 ml de água fervente e o sangue coalhado bem fragmentado, mexendo delicadamente.Corrija o sal.Tape a panela e deixe 5 minutos em lume brando.Coloque na terrina, regue com a sobra do azeite, enfeite com as sobras do coentros e tape.Sirva quente, com arroz branco e farinha de mandioca grossa (crua).

Nota: se entre os convidados houver quem goste de pimenta, prepare uma pequena porção de molho com 4 malaguetas verdes (bem esmagadas), 1 fio de azeite de oliva e 2 colheres de sopa do caldo do sarapatel.

Publicar comentário